Thursday 24 February 2022

a guerra a chegar e nós a fingir que não vemos.

O absurdo de tentarmos seguir com a nossa pacata e ordenada vida banal quando temos o apocalipse à porta.

Saturday 12 February 2022

11.02.2022

era só naqueles dias em que tentava fazer mil e uma coisas e conseguia realizar quase mil que se sentia, no momento de deitar a cabeça na almofada, não necessariamente feliz, mas pelo menos tranquila pela sensação de "dever cumprido".

aquela sexta-feira de fevereiro, dia 11, com um tempo estranho e a dois dias do malfadado dia de são valentim, era um desses dias, em que tinha conseguido articular logísticas complicadas para a semana seguinte - entre as quais um exame, um dia fora do escritório e uma entrevista - e tinha realizado (ainda que sem expectativa de grande sucesso) um primeiro exame, após ficar mais tempo no trabalho para tentar deixar encaminhados os assuntos essenciais que pudessem causar alguma espécie de agitação ou desconforto na sua breve ausência. tudo isso depois de no dia anterior ter reorganizado a sua agenda por ter mais uma pessoa próxima infectada com Covid, de ter completado a entrevista mais longa em que alguma vez participara, e de ter sido - como já vinha sendo habitual - preterida por alguém a quem comunicara a sua disponibilidade para "combinar qualquer coisa" naquela noite em que acabara por ficar livre.

a sensação de dever cumprido estaria, pensou vagamente, ligada a uma certa ideia de controlo sobre as coisas, sobre as circunstâncias, que conseguia contornar ou condicionar, conforme fosse mais vantajoso, sobre os processos e sobre os resultados, e essa noção de controlo era, para alguém que precisava de estar permanentemente em movimento para evitar afundar-se no mar das suas próprias dúvidas, talvez o sinónimo mais próximo que encontrava da palavra paz.

depois de todos esses afazeres devidamente cumpridos - sempre o dever, pensou, enquanto amaldiçoava secretamente Kant e os seus ensinamentos - decidiu aproveitar a energia que gerava e regenerava em si a tranquilidade decorrente desse cumprimento e organizar algumas coisas que, apesar de mundanas e quase insignificantes - pagar contas, limpar a caixa de email, ensaiar a tentativa de ganhar convites para ir ao cinema ver um dos filmes que mais a tinham entusiasmado nos últimos tempos - não deixavam de lhe pesar frequentemente na consciência como pequenas pontas soltas da sua existência, aspectos pendentes que, talvez, se fossem resolvidos, executados, concluídos, a fizessem sentir-se mais leve durante mais do que cinco minutos.

já a entrar pela madrugada adentro e ainda sem cansaço - pois um dos efeitos colaterais da sensação de dever cumprido era justamente a ausência de cansaço - pensou que ainda lhe faltava fazer muitas coisas, eliminar muitos items da lista de afazeres e que, provavelmente, aquela noite não seria suficiente, ainda que pudesse lograr executar as tarefas no máximo da sua produtividade.

assim sendo, questionou-se se talvez valesse mais a pena ir dormir, mas a resposta ficou por desvendar, enquanto foi esperando que o sono viesse.


envelhecer

o tempo vai passando por nós e não sabemos exactamente o que fazer dele. envelhecemos. pensamos que ficamos mais sábios, mas estamos apenas ...